Questões de Direito Público e Privado |
||
Desembargador Federal publicado em 30.04.2009
|
||
I - Comentário ao art. 236, § 1º, do CPC Com efeito, deflui do disposto no art. 236, caput e § 1º, do CPC, que, para que essa publicação surta o efeito pretendido pela lei, deve a publicação ser fiel e exata reprodução, embora não integral, do ato judicial, sob pena de nulidade (E. D. Moniz de Aragão, in Comentários ao CPC, 4. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1983, v. 2, p. 308, nº 316). O Egrégio Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento do RE nº 70.926-RS, em que foi relator o eminente Ministro Thompson Flores, deliberou, verbis: "Acórdão: deve refletir integral fidelidade ao julgamento. Em seu voto, salientou o Ministro Thompson Flores, verbis: “A disposição do acórdão e sua publicação, dispondo que o recurso compulsório fora provido, levaram a erro a União, e com as repercussões que deduz, pois julgava-se vencedora, desinteressando-se, pois, por qualquer recurso. Ao se pronunciar sobre os requisitos da sentença, leciona o notável processualista alemão James Goldschmidt, verbis: "b) la sentencia se debe haber dado a conocer de modo externo – no precisamente por publicación o notificación del dispositivo a ambas partes en el caso del § 7 del D. D. –, de tal suerte que aparezca con toda claridad la voluntad de que el pronunciamiento valga como sentencia, y, por su contenido, caro una sentencia atañente a la cuestión litigiosa sobre la que se diga recaída (y por ello seria inatendible como sentencia la que contuviere un mandamiento probatorio o se hubiere dictado en procesos cambiados)." (In Derecho Procesal Civil, traducción de Prieto Castro, Barcelona: Labor, 1936, p. 392) "La notificación tiene por objeto una declaración procesal (p. e., citación, sentencia) en su totalidad; esta determinación del contenido de la notificación va implicita en la exigencia de su modo documental porque hay que entregar al destinatario un documento en el que esté representada la declaración completa; así, si se notifica una citación o una sentencia, lo que ha de ponerse en conocimiento del destinatario es toda la citación y la sentencia. II - Comentário ao art. 232, III, do CPC A respeito, deliberou o Pretório Excelso, quando do julgamento do RE nº 89.506-MG, em que foi relator o saudoso Ministro Soares Muñoz, verbis: "Citação por edital. Falta de divulgação do edital em jornal local. Natureza cogente dos arts. 232, III, e 247 do Código de Processo Civil, salvo se o réu comparecer espontaneamente em juízo e não alegar a nulidade. Em seu voto, assinalou o douto Relator, verbis: "(...) No mesmo sentido, orienta-se a jurisprudência do Egrégio Superior Tribunal de Justiça (RMS nº 2.556-1-RJ, rel. Min. Demócrito Reinaldo, in RT 704/205). Dessa forma, inobservado o disposto no inciso III do art. 232 do CPC, a citação é nula, não produzindo qualquer efeito (art. 247 do CPC). “Quod initio vitiosum est, non potest tractu temporis convalescere.” (Paulo, Dig. 50, 17, 29) É o magistério de Chiovenda, quando afirma, em obra clássica, que "la citazione nulla non pùo produrre i suoi effetti giuridici, vale a dire che essa non puo costituire il rapporto processuale" (In Principii di Diritto Processuale Civile, Napoli: Dott. Eugenio Jovene, 1965, p. 646). III - Comentário ao art. 124 da Lei nº 6.404/76 Com efeito, o disposto no art. 124 da Lei nº 6.404/76, segundo o qual, no caso de reforma do estatuto, o edital de convocação deverá conter a indicação da matéria, tem por finalidade, como sabido, dar conhecimento aos acionistas das matérias que serão objeto de deliberação em assembleia, para que os mesmos, de acordo com suas conveniências e interesses, se façam presentes ou não. A respeito, firmou jurisprudência o Eg. Supremo Tribunal Federal quando do julgamento do RE n. 69.824-PR, verbis: "Sociedade por ações. A convocação para a assembleia-geral deve mencionar, mesmo que sumariamente, a matéria em pauta. Sem essa formalidade, prevista no art. 88 da Lei de Sociedades por Ações, não serão válidas as decisões tomadas em assembleia. Recurso provido" (In RTJ 55/512) Em seu voto, salientou o eminente Ministro Thompson Flores, verbis: "(...) É imperativo que assuntos como o que foi tratado constem da convocação. No mesmo sentido manifesta-se a doutrina: Fran Martins, in Comentários à Lei das Sociedades Anônimas, 2. ed., Revista Forense, 1984, v. 2, t. I, p. 168, n. 553; Rubens Requião, in Curso de Direito Comercial, 18. ed., Saraiva, 1992, v. 2, p. 139-40, n. 386; Modesto Carvalhosa, in Coments. à Lei de Sociedades Anônimas, Saraiva, 1978, v. 4, p. 197-8; Jean Escarra, Edouard Escarra et Jean Rault, in Traité Théorique et Pratique de Droit Commercial – Les Sociétés Commerciales, Paris: Sirey, 1959, t. 4, p. 95, n. 1.422, "b"; Antigono Donati, in L'invalidità della Deliberazione di Assemblea delle Società Anonime, Milano: Dott. A. Giuffrè, 1937, p. 147-8, n. 2. Pertinente o magistério de Enrico Soprano, em obra clássica, verbis: "L'indicazione dell'oggetto delle deliberazioni deve rispondere a due esigenze, alla chiarezza cioè ed alla precisione; esigenze che non possono scompagnarsi dalla buona fede di coloro che indicono l'assemblea. La chiarezza importa che non debbano esservi indicazioni ambigue, atte a trarre in inganno coloro che intervengono o che si astengono dall'intervenire all'assemblea, ed impediscano che i socii si formino un concetto esatto delle deliberazioni da prendere (1). La precisione importa che le enunciazioni non siano vaghe ed indeterminate, per guisa da rendere impossibile agli azionisti colla genericità delle indicazioni di prepararsi alla discussione e soluzione del tema ad essi sottoposto (2)." (In L'Assemblea Generale Degli Azionisti, Milano: Francesco Vallardi, 1914, p. 56, n. 31, "c") IV - O Judiciário e o Processo Disciplinar Realmente, na ordem constitucional em vigor, a Administração Pública, nos termos do art. 37 da CF/88, submete-se ao princípio da legalidade, não lhe sendo permitida a prática de atos administrativos em manifesta violação à letra e ao espírito da Magna Carta, incumbindo aos seus agentes a observância estrita dos ditames da Constituição. Nesse sentido, a lição de Charles Debbasch e Marcel Pinet, verbis: "L'obligation de respecter les lois comporte pour l'administration une double exigence, l'une négative consiste à ne prendre aucune décision qui leur soit contraire, l'autre, positive, consiste à les appliquer, c'est-à-dire à prendre toutes les mesures réglementaires ou individuelles qu'implique nécessairement leur exécution." (In Les Grands Textes Administratifs, Paris: Sirey, 1970, p. 376) Pertinente, ainda, o ensinamento de Paul Roubier, verbis: "La non-observation des conditions de validité possées par la loi à la confection de cet acte aurapour sanction une action de nullité ou en rescision, c'est-à-dire une action qui n'entrait aucunement dansles vues de l'auter (ou des auteurs) de l'acte juridique. Cabe ao Poder Judiciário, in casu, o exame da alegada violação ao direito previsto e garantido pela Carta Magna, ou seja, o princípio da legalidade previsto no art. 37 da CF/88. A respeito, leciona Bernard Schwartz, in Commentary on the Constitution of the United States - The Rights of Property, New York: The Macmillan Company, 1965, p. 2/3, verbis: "The Constitution has been construed as a living instrument intended to vest in the nation whatever authority may be appropriate to meet the exigencies of almost two centuries of existence. Da mesma forma, impõe-se recordar a velha, mas sempre nova lição de John Randolph Tucker, em seu clássico comentário à Constituição norte-americana, verbis: "All acts of every department of government, within the constitutional bounds of powers, are valid; all beyond bounds are irritum et insane – null and void. Government, therefore, has no inherent authority, but only such as is delegated to it by its sovereign principal. Government may transcend the limits of this authority, but its act is none the less void. It cannot, by usurpation, jurally enlarge its powers, nor by construction stretch them beyond the prescribed limits." (In The Constitution of the United States, Chicago: Callaghan & Co., 1899, p. 66/7, § 54) Outro não é o ensinamento de Daniel Webster, verbis: "The Constitution, again, is founded on compromise, and the most perfect and absolute good faith, in regard to every stipulation of this kind contained in it is indispensable to its preservation. Every attempt to grasp that which is regarded as an immediate good, in violation of these stipulations, is full of danger to the whole Constitution." (In The Works of Daniel Webster, Boston: Little, Brown and Company, 1853, v. I, p. 331) No regime do Estado de Direito não há lugar para o arbítrio por parte dos agentes da Administração Pública, pois a sua conduta perante o cidadão é regida, única e exclusivamente, pelo princípio da legalidade, insculpido no art. 37 da Magna Carta. Por conseguinte, somente a lei pode condicionar a conduta do cidadão frente ao poder do Estado, sendo nulo todo ato da autoridade administrativa contrário ou extravasante da lei, e como tal deve ser declarado pelo Poder Judiciário quando lesivo ao direito individual. Nesse sentido, também, a já citada lição de Charles Debbasch e Marcel Pinet, verbis: "L'obligation de respecter les lois comporte pour l'administration une double exigence, l'une négative consiste à ne prendre aucune décision qui leur soit contraire, l'autre, positive, consiste à les appliquer, c'est-à-dire à prendre toutes les mesures réglementaires ou individuelles qu'implique nécessairement leur exécution." (In Les Grands Textes Administratifs, Paris: Sirey, 1970, p. 376) Ao se deparar com questões concernentes ao processo administrativo disciplinar, trata-se de caso típico de exame da legalidade da ação da Administração pelo Poder Judiciário. A respeito, anota o saudoso Min. Victor Nunes Leal, em sua obra Problemas de Direito Público, 1. ed., Rio: Forense, 1960, p. 264, verbis: "A ‘legalidade’ do ato administrativo compreende não só a competência para a prática do ato e as suas formalidades extrínsecas como também os seus requisitos substanciais, os seus motivos, os seus pressupostos de direito e de fato (desde que tais elementos estejam definidos em lei como vinculadores do ato administrativo). Tanto é ilegal o ato que emane de autoridade incompetente, ou que não revista a forma determinada em lei, como o que se baseie num dado fato que, por lei, daria lugar a um ato diverso do que foi praticado. A inconformidade do ato com os fatos que a lei declara pressupostos dele constitui ilegalidade, do mesmo modo que o constitui a forma inadequada que o ato porventura apresente." Impõe-se destacar, pela sua importância, expressivo voto proferido pelo eminente e saudoso Ministro Laudo de Camargo no julgamento da Apelação Cível nº 6.845, onde assinalou o ex-Presidente do Supremo Tribunal Federal, verbis: "Não é isenta de censuras a proposição de que o juiz só tem a ver com a existência ou não do processo administrativo, sendo-lhe defeso perquirir do que vai por seu merecimento. Não é assim. O preceito de lei não pode ser de tal modo sacrificado. A respeito, pertinente o magistério do Prof. Marcel Waline acerca da importância da ouvida do servidor no processo administrativo disciplinar, bem como da sua presença na inquirição das testemunhas, verbis: "G) La présence de l'inculpé ou de ses défenseurs n'est pas nécessaire lors de l'audition des témoins par l'enquêteur, pourvu que le compte rendu de cette audition lui soit communiqué en temps utile. Por outro lado, impõe-se que a portaria de instauração do processo disciplinar faça a indicação precisa da infração a ser apurada. Com efeito, não se trata de mera formalidade, mas de pressuposto essencial para a concretização da garantia da plena defesa do acusado, insculpida na Constituição (art. 153, § 15, da CF de 1969; art. 5º, LV, da CF de 1988). Impende que a Portaria descreva o ato ou atos a apurar, indicando-se as infrações a serem punidas. Realmente, ao fixar o alcance do art. 5º, LV, da CF, não cabe ao intérprete distinguir onde a lei não o faz (Carlos Maximiliano, in Hermenêutica e Aplicação do Direito, 6. ed., Freitas Bastos, 1957, p. 306, n. 300), notadamente quando se trata de interpretação constitucional. A respeito, pertinente o magistério sempre autorizado de Pontes de Miranda, verbis: "Na interpretação das regras jurídicas gerais da Constituição, deve-se procurar, de antemão, saber qual o interesse que o texto tem por fito proteger. É o ponto mais rijo, mais sólido; é o conceito central, em que se há de apoiar a investigação exegética. Com isso não se proscreve a exploração lógica. Só se tem de adotar critério de interpretação restritiva quando haja, na própria regra jurídica ou noutra, outro interesse que passe à frente. Por isso, é erro dizer-se que as regras jurídicas constitucionais se interpretam sempre com restrição. De regra, o procedimento do intérprete obedece a outras sugestões, e é acertado que se formule do seguinte modo: se há mais de uma interpretação da mesma regra jurídica inserta na Constituição, tem de preferir-se aquela que lhe insufle a mais ampla extensão jurídica; e o mesmo vale dizer-se quando há mais de uma interpretação de que sejam suscetíveis duas ou mais regras jurídicas consideradas em conjunto, o de que seja suscetível proposição extraída, segundo os princípios, de duas ou mais regras. A restrição, portanto, é excepcional." (In Comentários à Constituição de 1967 com Emenda nº 1 de 1969, 3. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1987, t. I, p. 302, n. 14) Outra não é a lição de um dos mais conceituados constitucionalistas norte-americanos, Henry Campbell Black, em obra clássica, verbis: "Where the meaning shown on the face of the words is definite and intelligible, the courts are not at liberty to look for another meaning, even though it would seem more probable or natural, but they must assume that the constitution means just what it says." (In Handbook of American Constitutional Law, 2. ed., St. Paul: West Publishing Co., 1897, p. 68) Ademais, recorde-se a lição do saudoso Ministro Hannemann Guimarães ao julgar o RE nº 9.189, verbis: "Não se deve, entretanto, na interpretação da lei, observar estritamente a sua letra. A melhor interpretação, a melhor forma de interpretar a lei não é, sem dúvida, a gramatical. A lei deve ser interpretada pelo seu fim, pela sua finalidade. A melhor interpretação da lei é, certamente, a que tem em mira o fim da lei, é a interpretação teleológica." (In Revista Forense, v. 127/397). Ora, inobservada tal formalidade, resta comprometida a garantia constitucional prevista no art. 5º, LV, da CF/88. Ademais, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de que, sendo inconstitucional, a regra jurídica é nula, não produzindo qualquer efeito jurídico, sendo a declaração de inconstitucionalidade ex tunc. (In RTJ 102/671; 143/859; 146/461 e 147/985-6 ) A respeito, pronunciou-se o eminente Ministro Thompson Flores, quando Presidente da Suprema Corte, ao votar no julgamento da Rp. nº 1.014-RJ, verbis: “A lei ou o ato atingido, porque inconstitucionais são nulos desde o nascedouro; são eles, como afirmava Ruy, como se nunca tivessem existido; seu efeito dessarte, pelo nosso sistema, é sempre ex tunc. E esta é a jurisprudência indiscrepante e reiterada do Supremo Tribunal Federal.” (In RTJ 91/776 ) Da mesma forma, manifesta-se a melhor doutrina, verbis: “The general rule is that an unconstitutional statute, though having the form and name of law, is in reality no law, but is wholly void, and in legal contemplation is as inoperative as if it had never been passed. Since an unconstitutional law is void, it imposes no duties and confers no power or authority on any one; it affords protection to no one, and no one is bound to obey it, and no courts are bound to enforce it. "An unconstitutional act is not a law. It confers no rights; it imposes no duties; it affords no protection; it creates no office. It is, in legal contemplation, as inoperative as though it had never been passed." (Henry Campbell Black, in Handbook of American Constitutional Law., 2. ed., St. Paul: West Publishing Co., 1897, p. 66, n. 46 ). Dessa forma, deliberou o Pretório Excelso que é nulo o processo administrativo disciplinar que omitir a substância de fato das acusações na portaria de sua instauração (RE nº 120.570-BA, rel. Min. Sepúlveda Pertence, in RTJ 138/658). No mesmo sentido, inclina-se a doutrina, consoante o magistério de Cino Vitta, em obra clássica, verbis: "La giurisprudenza ha ripetutamente affermato che l'imputato deve conoscere tutti i punti essenzialisui quali poggia l'accusa, e l'aver trascurato di notificargliene taluno è motivo di nullità del procedimento;" (Cino Vitta, in Il Potere Disciplinare Sugli Impiegati Pubblici, Milano: Società Editrice Libraria, 1913, p. 477). Da mesma forma, entre outros, o ensinamento de Marcel Waline, in Traité Élémentaire de Droit Administratif, 6. ed, Paris: Sirey, 1952, p. 348, 4º, bem como o de Hely Lopes Meirelles, in Direito Administrativo Brasileiro, 14. ed., Rev. dos Tribunais, 1989, p. 591. V - Publicação do Ato Administrativo Nos termos da melhor doutrina, a publicação do ato administrativo é elemento integrante da própria validade, ou melhor, da eficácia do ato, sendo inerente a todo ato administrativo (Themistocles Brandão Cavalcanti, in Tratado de Direito Administrativo, 5. ed., Livr. Freitas Bastos, v. I, p. 227/9; Hely Lopes Meirelles, in Direito Administrativo Brasileiro, 14. ed., Rev. dos Tribs., 1989, p. 82/3 e 135/6). Nesse sentido, é a jurisprudência do Pretório Excelso, consoante se verifica do aresto proferido quando do julgamento do RE nº 71.652-SP, rel. Min. Thompson Flores, in RTJ 61/472. Com a promulgação da Carta de 1988, o princípio da publicidade dos atos administrativos adquiriu relevo constitucional (art. 37 da CF de 1988). Realmente, sem a publicação, o ato administrativo, embora eficaz, não se revestiu de exequibilidade, que é a disponibilidade do ato para produzir imediatamente os seus efeitos finais (a respeito, v. Hely Lopes Meirelles, in Op. cit., p. 136). O ato administrativo perfeito é aquele que não apenas está acabado (eficaz), mas sim completo (exequível), pela verificação de todas as condições de sua operatividade. Pertinente, no caso, o magistério de Arnaldo de Valles, em obra clássica, verbis: "Quando nell'atto si riscontrino questi requisiti essenziali, senza che nessun vizio li intacchi, alla volontà dell'agente corrisponde l'effetto, che l'ordine giuridico protegge: l'atto allora è valido, quando possiede l'attitudine a produrre l'effetto pratico desiderato dal suo autore validamente, cioè con la protezione dell'ordine giuridico. Se, invece, uno di quei requisiti manchi, o sia viziato, ne deriva la invalidità dell'atto, il cui effetto pratico o non si produce affatto, o può prodursi in forza di azioni del soggetto senza la protezione del diritto, come effetto puramente di fatto." (In La Validità Degli Atti Amministrativi, Padova: Cedam, 1986, p. 90) Actus omissa forma legis corruit. A respeito, deliberou o Eg. STJ, verbis: "ADMINISTRATIVO. CARGO PÚBLICO. APOSENTADORIA. RETRATAÇÃO DO PEDIDO ANTES DA PUBLICAÇÃO DO ATO. RETORNO AO STATUS QUO ANTE. POSSIBILIDADE. 1 - Regida a Administração pelo princípio da publicidade de seus atos, estes somente têm eficácia depois de verificada aquela ocorrência, razão pela qual, retratando-se o servidor antes de vir a lume o ato de aposentadoria, sua situação funcional deve retornar ao status quo ante, vale dizer, subsiste a condição de funcionário ativo. 2 - Recurso em mandado de segurança provido. " (RMS nº 1994/0039028-9 - 6ª Turma - Rel. Min. Fernando Gonçalves - j. em 15.08.2000 - DJU de 04.06.2000, v. 24, p. 93) VI - Alteração do Contrato Administravivo por Ato Unilateral da Administração A doutrina é uniforme no admitir que o poder de alteração e rescisão unilateral do contrato administrativo é inerente à Administração Pública, podendo ser exercido ainda que nenhuma cláusula expressa o consigne, porém, a alteração somente pode atingir as denominadas cláusulas regulamentares, isto é, aquelas que dispõem sobre o objeto do contrato e o modo de sua execução. No que concerne às cláusulas econômicas, ou seja, aquelas que estabelecem a remuneração e os direitos do contratado perante a Administração e dispõem acerca da equação econômico-financeira do contrato administrativo, estas são inalteráveis, unilateralmente, pelo Poder Público sem que se proceda à devida compensação econômica do contratado, visando a restabelecer o equilíbrio financeiro inicialmente ajustado entre as partes. Esse o magistério do saudoso jurista Hely Lopes Meirelles, in Licitação e Contrato Administrativo, 9. ed., Revista dos Tribunais, 1990, p. 181/2. É o que se encontra previsto nos arts. 37, XXI, e 175, III, da CF/88, bem como no art. 9º, § 4º, da Lei nº 8.987/95. Tais princípios restaram definitivamente incorporados no Direito Administrativo, sobretudo após a publicação do famoso aresto do Conselho de Estado da França, no caso da Companhia de Gás de Bordeaux, proferido em 1916, onde destacou-se a notável contribuição de Chardenet, verbis: “Mais tout service public doit être organisé dans des conditions qui permettent de compter sur son fonctionnement d'une manière régulière, sans interruption, même momentanée, sans à-coups, passez-nous l'expression, et qui, en même temps, seront de nature à donner pleine satisfaction à ceux ayant à faire appel au service public, qui a étécréé pour eux, fonctionne régulièrement à leur égard. Voyez Syndicat des Propriétaires et Contribuables du quartier de la Croix-de-Seguey-Tivoli, à Bordeaux, 21 décembre 1906. Il faut également, et cela dans l'intérêt général, que le service public soit à l'abri d'incessantes ou de trop fréquentes modifications qui, le plus souvent, apporteraient des troubles dans le fonctionnement ou la marche du service. Par suite, le service public doit être organisé pour un certain nombre d'années, réserve faite, bien entendu, des perfectionnements qui pourraient y être apportés. Mais, au cours d'une période de temps un peu longue, bien des événements peuvent se produire, notamment la situation économique peut changer ou tout au moins se modifier. D'autre part, pour la bonne organisation et l'heureux fonctionnement d'un service public important, des dépenses élevées doivent être engagées, de gros capitaux doivent être immobilisés pour longtemps. Si nous prenons l'exemple du service d'éclairage, au début on aura à construire des usines, à établir des canalisations, etc. Plus tard, on aura à faire face à des frais d'entretien, de reconstruction, etc., à procéder à des renouvellements de matériel, souvent rendus nécessaires par quelque découverte scientifique ou par des perfectionnements des moyens de fabrication, dont les bénéficiairesdu service public doivent profiter. Au cours de l'execution du service, il faudra passer, presque toujours longtemps à l'avance, des marchés importants pour s'assurer les matières premières nécessaires à la fabrication du gaz. Les dépenses que l'on aura ainsi engagées seront amorties peu à peu et elles ne le seront que sur une période de temps assez longue. Pour éviter d'exposer la personne publique à tous les risques auxquels nous venons de faire allusion, – pour lui éviter d'engager ses ressources propres dans des opérations commerciales ou industrielles qu'impose le fonctionnement du service public, – pour lui éviter d'être obligée de recourir parfois à des emprunts plus ou moins onéreus, – on a songé à s'adresser à des tiers, particuliers ou sociétés, pour assurer le service public; on a songé à se décharger sur eux du soin d'assurer ce service. On est ainsi arrivé au contrat de concession.' (In Revue Du Droit Public Et De La Science Politique, Paris: M. Giard & E. Brière Editeurs, 1916, t. 33, p. 220/1) É o magistério autorizado de Georges Péquignot, verbis: "Le cocontractant a droit à la rémunération inscrite dans son contrat. C'est le principe de la fixité du prix du contrat. Il n'a consenti son concours que dans l'espoir d'un certain bénéfice. Il a accepté de prendre à sa charge des travaux et des aléas qui, s'il n'avait pas voulu contracter, auraient été supportés par l'Administration: il est normal qu'il en soi rémunéré. E, mais adiante, conclui o mesmo autor, verbis: “...l'Administration, lorsqu'elle modifie le contrat sur un point qui intéresse le service public, doit cependant maintenir son équation financière, c'està-dire, le bénéfice que le cocontractant espérait tirer de l'opération. A fortiori, toute autre modification étant mise à part, cette équation financière doit-elle être maintenue par l'impossibilité de réduire ou de supprimer directement la rémunération en vue de laquelle le cocontractant s'est engagé. Nesse sentido, recentes decisões do Eg. STJ, verbis: "AGRAVO REGIMENTAL NA SUSPENSÃO DE LIMINAR N. 74 - PR (2004/0031293-3)
Preciso o magistério de Hely Lopes Meirelles, in Estudos e Pareceres de Direito Público, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991, v. 11, p. 120/1, verbis: "O equilíbrio econômico-financeiro é a relação que as partes estabelecem inicialmente no contrato administrativo, entre os encargos do particular e a retribuição devida pela entidade ou órgão contratante, para a justa remuneração do seu objeto (cf. nosso Licitação e Contrato Administrativo, ob. cit., p. 184) Da mesma forma, a lição de Celso Antônio Bandeira de Mello, in Revista Trimestral de Direito Público, v. 38/143-4, verbis: "6. A legislação brasileira, a começar da Constituição, proclama a intangibilidade do equilíbrio econômico-financeiro original do contrato. Deveras o art. 37, XXI, da Lei Magna dispõe que '(...) obras, serviços. , compras e alienações serão contratados, mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento mantidas as condições efetivas da proposta (...)'. No que concerne às limitações que sofre a Administração Pública para promover alterações unilaterais no contrato administrativo, notadamente o contrato de concessão do serviço público, averba André de Laubadère, em seu já clássico Traité des Contrats Administratifs, 2. ed., Paris: L.G.D.J., 1984, t. 2º, p. 406, n. 1177, verbis: 'D'une part, l'administration et son cocontractant ont conclu un certain contrat, ayant un certain objet: l'administration ne peut prétendre imposer une modification qui aboutirait à dénaturer le contrat, à lui donner en fait un objet nouveau, différent de celui qui a été envisagé dans la commune intention des parties; D'autre part, le cocontractant a conclu le contrat en considération de certaines conditions, notamment de ses possibilités techniques et financières. L'administration ne peut prétendre imposer des modifications qui aboutiraient par leur importance à un bouleversement du contrat et de son économie générale'. Nesse sentido, ainda, os seguintes autores: Jean de Soto, in Droit Administratif - Theorie Generale du Service Public, Paris: Montchrestien, 1981, p. 339; Marcel Waline, in Traité Élémentaire de Droit Administratif, 6. ed., Paris: Libr. du Recueil Sirey, 1952, 392/3, § 3º; Jean Rivero, in Droit Administratif, 8. ed., Paris: Dalloz, 1977, p. 454/5, nº 481; Jacqueline Morand-Deviller, in Cours de Droit Administratif, 3. ed., Paris: Montchrestien, p. 362, 'C'; Georges Dupuis, Marie J. Guédon, Patrice Chrétien, in Droit Administratif, 7. ed., Paris: Armand Colin, p. 403, 'B'; Laurent Richer, in Droit des Contrats Administratifs, Paris: L.G.D.J., 1995, p. 198; Gaston Jèze, in Les Principes Généraux Du Droit Administratif - Théorie Générale Des Contrats De L'Administration, Troisième Partie, Paris: L.G.D.J., 1936, 1.142. A respeito, a lição precisa de Laubadère, em artigo intitulado Du pouvoir de l'administration d'imposer unilatéralement des changements aux dispositions des contrats administratifs, publicado na Revue du Droit Public, 1954, p. 40/1, verbis: “Le pouvoir de modification unilatérale est considéré comme d'ordre public; l'administration ne peut renoncer à l'avance à l'exercer (Jèze, op. cit., p. 225; Bonnard, op. cit., p. 620). Em palavras lapidares, a propósito do alcance da garantia do equilíbrio econômico-financeiro do contrato administrativo, anotam Nicola Assini e Lucio Marotta, in La Concessione di Opere Pubbliche, Padova: Cedam, 1981, p. 73/4, verbis: “È un principio pacifico che la gestione sia svolta dal concessionario a suo rischio e periculo. Ma è altrettanto evidente che rischi e pericoli sono a carico del concessionario solo in condizioni di normale svolgimento del rapporto economico regolato fra le parti dalla convenzione accessiva all'atto di concessione. Ademais, como sabido, os atos e os contratos praticados pelo Poder Público, sua validade, extensão e eficácia, somente poderão ser apreciados à luz das regras de direito público, notadamente o princípio da legalidade, hoje insculpido no art. 37 da CF/88. A respeito, bem lembrou Hartmut Maurer, verbis: “Le problème principal du contrat administratif, du point de vue juridique, est le principe de la soumission de l'administration à la loi et au droit (Gesetzmässigkeit der Verwaltung). Alors que le droit civil est marqué par le principe d'autonomie des relations entre personnes privées (Privatautonomie) et que, par suite, il est axé précisément sur le contrat, considéré comme moyen d'aménagement des rapports entre individus (Gestaltungsmittel), le droit administratif est dominé par le principe de légalité. Les règles juridiques s'imposant à l'administration régissent de plus en plus étroitement les rapports qu'elle a avec le citoyen, comme le montre l'extension du domaine réservé à la loi, la soumission croissante du pouvoir discrétionnaire à des règles de droit, la reconnaissance de droits subjectifs et le développment de la protection juridictionelle.” (In Droit Administratif Allemand, traduit par M. Fromont, Paris: L.G.D.J., 1994, p. 378/9, n. 25, “c”) |
||
Referência bibliográfica (de acordo com a NBR 6023: 2002/ABNT): |
||
|