O direito fundamental à moradia em zonas seguras: a prevenção e o dever de agir do Estado frente a ocupações irregulares |
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Autor: Alex Perozzo Boeira Procurador Federal, Mestrando em Direito na PUCRS, Especialista em Direito do Estado pela Uniritter publicado em 30.06.2011
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Resumo O direito à moradia, assim como os demais direitos prestacionais, tem encontrado dificuldades de concretização no Estado Social brasileiro. Como reflexo dessa realidade, o déficit habitacional, mesmo em declínio, supera a casa dos 5,6 milhões de domicílios. É nesse contexto que o crescimento desordenado das cidades e a urbanização sem controles criaram o terreno propício à fixação de moradias em zonas de risco ambiental e/ou geológico, expondo a perigo, em última análise, a vida e a integridade física das populações afetadas. O Estatuto da Cidade (com suas diretrizes gerais e seus instrumentos da política urbana), a Lei de Parcelamento do Solo Urbano e a própria Constituição Federal perfazem a base normativa para o desenvolvimento ordenado e sustentável dos espaços urbanos, públicos ou privados. Frente a esse panorama regulatório, tem o Poder Público as competências para agir, promovendo o desenvolvimento urbano regular. Como agente da política urbana, incumbe-lhe também o dever de prevenir possíveis danos e corrigir eventuais ilicitudes – quer fiscalizando, quer removendo –, propiciando, desse modo, a implementação de habitações humanas em locais dignos e seguros. Palavras-chave: Moradia. Risco. Prevenção. Sumário: Introdução. 1 Direitos constitucionais envolvidos: o direito fundamental à moradia, à vida (e à integridade física) e ao meio ambiente equilibrado. 2 O direito à moradia em zonas seguras e o dever de agir do Estado na prevenção dos danos e riscos: da normativa regulatória às manifestações jurisprudenciais. Conclusão. Introdução O presente estudo buscará examinar o direito à moradia em zonas seguras e o dever de agir do Estado frente a ocupações irregulares de áreas de encostas, de preservação ambiental, pertencentes ou não ao domínio público, cuja utilização e permanência possa colocar em risco a integridade física dos ocupantes ou provocar danos ao meio ambiente. 1 Direitos constitucionais envolvidos: o direito fundamental à moradia, à vida (e à integridade física) e ao meio ambiente equilibrado A realidade social brasileira demonstra que parcela significativa da população tem precário ou nenhum acesso aos direitos prestacionais. Com efeito, o Estado Social tem tornado evidentes as dificuldades de implementar e tornar disponíveis os assim qualificados direitos sociais. “Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.” Muito embora o texto constitucional não qualifique a expressão, de modo a conferir maior especificidade e concretude ao conteúdo do direito à moradia, certamente não quis o constituinte derivado incorporar ao texto constitucional um direito a qualquer moradia, mas a uma moradia segura, estável, compatível com o mesmo grau de proteção constitucional ao meio ambiente e à vida em sentido lato. As sub-habitações de instável estrutura e localização insegura certamente não correspondem ao desiderato constitucional de moradia condigna com a existência humana. Nesse sentido, pertinente o registro de Nicole Mazzoleni Facchini(4): À simetria, o art. 225 da CF/88 abarcou o direito ao meio ambiente equilibrado, impondo ao Poder Público e à coletividade o dever de preservação: 2 O direito à moradia em zonas seguras e o dever de agir do estado na prevenção dos danos e riscos: da normativa regulatória às manifestações jurisprudenciais
A enchente no Estado de Santa Catarina (2008), o desmoronamento de encosta no Município de Angra dos Reis (2010) e os recentes deslizamentos de terra na região serrana do Estado do Rio de Janeiro(5) (2011), todos amplamente veiculados na mídia nacional e internacional, vitimaram centenas de pessoas e desabrigaram milhares. Muitas das vítimas fatais estavam localizadas em áreas de risco, regiões de encostas ou de solo impróprio à edificação. “A produção das cidades brasileiras é marcada pela desigualdade: enquanto uma parte da cidade é produzida regularmente por proprietários e empreendedores privados, uma (considerável) parte do tecido urbano é produzida à margem da lei e da ordem urbanística – ilegal e irregularmente, portanto –, criando uma via de acesso à terra e à moradia que obedece a uma lógica da necessidade. (...) Devido à ineficácia das políticas públicas de provisão habitacional, o fenômeno da solução informal para os problemas de moradia assumiu as mais variadas tipologias (favelas, cortiços, loteamentos irregulares e clandestinos, ocupação de áreas de risco, etc.) (...). A ausência de alternativas legais de acesso à terra urbana e à moradia empurrou a população pobre para os terrenos mais impróprios para fins de moradia, muitas vezes para áreas ambientalmente vulneráveis (sem valor no mercado imobiliário regular, porém mais baratas no mercado clandestino) e, em grande parte dos casos, para as periferias das cidades. A cidade resultante desse processo é marcada por ‘urbanização de risco’, perversa não apenas para os que vivenciam as duras condições de vida dos que não têm ‘direito à cidade’, mas também para a cidade como um todo, que se expande ilimitadamente, avança sobre áreas de interesse ambiental, compromete recursos naturais e paga um alto custo pela expansão da infraestrutura.” Pois bem, em se tratando de ocupação irregular de espaços urbanos – públicos ou privados –, impende frisar que o ordenamento jurídico pátrio exige comportamento ativo do Poder Público, especialmente em se tratando da esfera municipal de governo. “IV – planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da população e das atividades econômicas do Município e do território sob sua área de influência, de modo a evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente; “DECISÃO Não bastassem as prescrições do Estatuto da Cidade, a própria Lei 6.766/79, que regula o parcelamento do solo urbano, é terminantemente proibitiva em relação a loteamento ou desmembramento(9) em terrenos alagadiços ou sujeitos a inundações, com inclinação acentuada, sem condições geológicas ou em áreas de preservação ambiental.(10) “DECISÃO Oportuno aduzir que o Tribunal Constitucional Federal Alemão, já em 1979,(12) apreciou o embate de direitos (fundamentais) que, no caso concreto, também afetariam o direito à moradia. Com efeito, ao julgar reclamação constitucional, a Corte alemã entendeu que o direito à tutela executiva do credor de efetivar o despejo do devedor deveria ceder em face do risco de agravamento da doença psíquica deste último, que poderia redundar em danos à sua vida ou à sua integridade física (risco de suicídio, já tentado em momento pretérito). Assim, aplicando a eficácia horizontal(13) dos direitos fundamentais, o Tribunal Constitucional Alemão acolheu a primazia do direito à vida e à integridade física, afastando o despejo em virtude da execução forçada. A preservação da moradia (por meio da suspensão do despejo) atuaria como meio de proteção ao fim tutelado pela Constituição alemã: a vida. “O princípio da prevenção, no Direito Administrativo, estatui que a administração pública, ou quem faça as suas vezes, na certeza de que determinada atividade implicará dano injusto, se encontra na obrigação de evitá-lo, desde que no rol de suas atribuições competenciais e possibilidades orçamentárias. Quer dizer, tem o dever incontornável de agir preventivamente, não podendo invocar juízos de conveniência ou de oportunidade, nos termos das concepções de outrora acerca da discricionariedade administrativa. (...) há certeza suficiente de que determinado prejuízo ocorrerá se a rede de causalidade não for tempestivamente interrompida. (...) Eis – sem tirar nem acrescentar – o princípio da prevenção, nos seus elementos de fundo: (a) altíssima e intensa probabilidade (certeza) de dano especial e anômalo; (b) atribuição e possibilidade de o Poder Público evitá-lo; e (c) o ônus estatal de produzir a prova da excludente da reserva do possível ou outra excludente da causalidade, no caso da configuração do evento danoso.” Assim, ainda que a remoção compulsória (promovida administrativamente ou, em caso de resistência, na via judicial) seja traumática, impende ao Poder Público conferir maior âmbito de proteção ao direito à vida e ao meio ambiente equilibrado, em face do potencial risco de permanência das populações nas áreas afetadas. Como não poderia deixar de ser, a vida é bem supremo e pressuposto para o exercício do direito à moradia – bem como dos demais direitos fundamentais –, e não o inverso.(15) “AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DIRETO AMBIENTAL. DIREITO À MORADIA. DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS. DESOCUPAÇÃO FORÇADA E DEMOLIÇÃO DE MORADIA. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. POSSE ANTIGA E INDISPUTADA. AQUIESCÊNCIA DO PODER PÚBLICO. DISPONIBILIDADE DE ALTERNATIVA PARA MORADIA. TERRENO DE MARINHA. DESNECESSIDADE DE PERÍCIA JUDICIAL. PROTEÇÃO À DIGNIDADE HUMANA, DESPEJO E DEMOLIÇÃO FORÇADAS PARA PROTEÇÃO AMBIENTAL. PREVENÇÃO DE EFEITO DISCRIMINATÓRIO INDIRETO. 1. Não há nulidade pela não realização de perícia judicial quanto à qualificação jurídica da área onde reside a autora como terreno de marinha, à vista dos laudos administrativos e da inexistência de qualquer elemento concreto a infirmar tal conclusão. 2. A área de restinga, fixadora de dunas, em praia marítima, é bem público da União, sujeito a regime de preservação permanente. 3. A concorrência do direito ao ambiente e do direito à moradia requer a compreensão dos respectivos conteúdos jurídicos segundo a qual a desocupação forçada e a demolição da moradia dependem da disponibilidade de alternativa à moradia. 4. Cuidando-se de família pobre, chefiada por mulher pescadora, habitando há largo tempo e com aquiescência do Poder Público a área de preservação ambiental em questão, ausente risco à segurança e de dano maior ou irreparável ao ambiente, fica patente o dever de compatibilização dos direitos fundamentais envolvidos. 5. O princípio de interpretação constitucional da força normativa da Constituição atenta para a influência do conteúdo jurídico de um ou mais direitos fundamentais para a compreensão do conteúdo e das exigências normativas de outro direito fundamental, no caso, o direito ao ambiente e o direito à moradia. 6. Incidência do direito internacional dos direitos humanos, cujo conteúdo, segundo o Alto Comissariado para Direitos Humanos da ONU (The Right to adequate housing (art. 11.1): forced evictions: 20/05/97. CESCR General comment 7), implica que ‘nos casos onde o despejo forçado é considerado justificável, ele deve ser empreendido em estrita conformidade com as previsões relevantes do direito internacional dos direitos humanos e de acordo com os princípios gerais de razoabilidade e proporcionalidade’ (item 14, tradução livre), ‘não devendo ocasionar indivíduos ‘sem-teto’ ou vulneráveis à violação de outros direitos humanos. Onde aqueles afetados são incapazes para prover, por si mesmos, o Estado deve tomar todas as medidas apropriadas, de acordo com o máximo dos recursos disponíveis, para garantir que uma adequada alternativa habitacional, reassentamento ou acesso a terra produtiva, conforme o caso, seja disponível’. 8. Proteção da dignidade da pessoa humana, na medida em que o sujeito diretamente afetado seria visto como meio cuja remoção resultaria na consecução da finalidade da conduta estatal, sendo desconsiderado como fim em si mesmo de tal atividade. 9. Concretização que busca prevenir efeitos discriminatórios indiretos, ainda que desprovidos de intenção, em face de pretensão de despejo e demolição atingir mulher chefe de família, vivendo em sua residência com dois filhos, exercendo, de modo regular, a atividade pesqueira. A proibição da discriminação indireta atenta para as consequências da vulnerabilidade experimentada por mulheres pobres, sobre quem recaem de modo desproporcional os ônus da dinâmica gerados das diversas demandas e iniciativas estatais e sociais.” (TRF4, AC 2006.72.04.003887-4, Terceira Turma, Relator Roger Raupp Rios, D.E. 10.06.2009) “ADMINISTRATIVO. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. DEC-LEI 9.760/67. DESOCUPAÇÃO DE GRANDE ÁREA COLETIVA. AJUIZAMENTO DE VÁRIAS AÇÕES COM IDÊNTICO OBJETIVO. ESTATUTO DA CIDADE. LEI Nº 10.257/01. I – A UNIÃO FEDERAL ajuizou ação de reintegração de posse, em face de VALTER SOARES DOS SANTOS, objetivando a reintegração de posse de imóvel, com base no Decreto-Lei nº 9.760/46, com pedido de liminar, argumentando para tanto que os réus ocupavam área pertencente à UNIÃO, na Ilha do Governador, sem autorização do III Comar. II – Trata-se de área localizada na Ilha do Governador, ocupada por milhares de pessoas, constituindo-se na Favela dos Gaegos, Favela dos Barbantes e Morro do Inglês. III – A UNIÃO propôs centenas de ações em separado com idêntico objetivo, tendo o MM. Juiz de Primeiro Grau julgado extinto o presente feito, sem julgamento do mérito, com fulcro no art. 267, VI, do CPC, sob o fundamento de que haveria uma comunidade vivendo no local, e, ao optar por ajuizamentos em separado de diversas ações, estaria a UNIÃO inviabilizando a própria efetividade de qualquer decisão favorável à sua pretensão. IV – Como bem destacou a r. Sentença, após a caracterização de verdadeira comunidade ocupando irregularmente a área, ensejando a comumente conhecida como ‘favela’, a Administração pretende transferir a responsabilidade referente à retirada de milhares de pessoas ao Poder Judiciário, na contramão do social e em conflito com o próprio espírito de regularização de ocupação de imóveis privados, por parte de pessoas de baixa renda, destacado pelo Estatuto da Cidade (Lei 10.257/01, art. 2°, XIV, e art. 10). V – Outrossim, sequer restou demonstrado, por parte da autora, a comprovação do elemento subjetivo (detenção) a conferir o direito reclamado. VI – Negado provimento à apelação e à remessa necessária. Mantida a r. Sentença de Primeiro Grau. (TRF-2, Processo: 2002.02.01.022518-7, AC – 289145, UF: RJ, Órgão Julgador: OITAVA TURMA ESPECIALIZADA, Data Decisão: 28.07.2009)
Como visto, entretanto, a inércia do ente público poderá atrair sua responsabilização no reparo dos danos gerados, independentemente do dissenso doutrinário(17) e jurisprudencial(18) acerca da exigência (ou não) da demonstração de culpa lato sensu para a caracterização da responsabilidade civil do Estado(19) por omissão. Sem dúvida, o tema aborda questão ainda incipiente no cenário pretoriano brasileiro. Sua relevância se expressa pelos valores envolvidos, bem como pela extensão dos danos causados com a ocupação irregular e ilegal de imóveis urbanos, públicos ou privados, merecendo, pois, especial atenção da Doutrina. ALFONSIN, Betânia; FERNANDES, Edésio (Org.). Direito à moradia e segurança da posse no estatuto da cidade: diretrizes, instrumentos e processos de gestão. Belo Horizonte: Fórum, 2006. ÁVILA, Humberto. Teoria dos Princípios. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2007. CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7. ed. Coimbra: Almedina, 2003. FACCHINI, Nicole Mazzoleni. Direitos fundamentais e direito à moradia: harmonização de conflitos à luz do princípio da proporcionalidade. 2009. 242f. Mestrado (Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009. FERREIRA FILHO, Manuel Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 33. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. FREITAS, Juarez. A interpretação sistemática do Direito. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2010. ______. Discricionariedade administrativa e o direito fundamental à boa administração pública. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. ______. O controle dos atos administrativos e os princípios fundamentais. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2004. NALIN, Nilene Maria. Os significados da moradia: um recorte a partir dos processos de reassentamento em Porto Alegre. 2007. 172f. Mestrado (Mestrado em Serviço Social) – Faculdade de Serviço Social, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007. PAGANI, Elaine Adelina. O direito de propriedade e o direito à moradia: um diálogo comparativo entre o direito de propriedade urbana imóvel e o direito à moradia. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2009. SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos Direitos Fundamentais. 10. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009. SCHWABE, Jürgen; MARTINS, Leonardo (Org.). Cinquenta anos de jurisprudência do Tribunal Constitucional Federal Alemão. Trad.: HENNIG, Beatriz et al. Berlim: Konrad-Adenauer-Stiftung, 2005. SILVA, José Afonso da. Comentário contextual à Constituição. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2008. Notas 1. A esse respeito, pertinente a lição do Professor Humberto Ávila – Teoria dos Princípios. 4. ed., São Paulo: Malheiros, 2005. p. 87-8, 102 e 112-3 – acerca do postulado da proporcionalidade: “O postulado da proporcionalidade não se confunde com a ideia de proporção em suas mais variadas manifestações. Ele se aplica apenas a situações em que há uma relação de causalidade entre dois elementos empiricamente discerníveis, um meio e um fim, de tal sorte que se possa proceder aos três exames fundamentais: o da adequação (o meio promove o fim?), o da necessidade (dentre os meios disponíveis e igualmente adequados para promover o fim, não há outro meio menos restritivo do(s) direito(s) fundamentais afetados?) e o da proporcionalidade em sentido estrito (as vantagens trazidas pela promoção do fim correspondem às desvantagens provocadas pela adoção do meio?). Nesse sentido, a proporcionalidade, como postulado estruturador da aplicação de princípios que concretamente se imbricam em torno de uma relação de causalidade entre um meio e um fim, não possui aplicabilidade irrestrita”. 2. Releva mencionar que, de acordo com o Ministério das Cidades, baseado em estudo da Fundação João Pinheiro para o ano de referência 2008, o déficit habitacional no Brasil corresponde a cerca de 5,6 milhões de domicílios. Maiores informações disponíveis em: <http://www.cidades.gov.br/noticias/ministro-anuncia-novo-deficit-habitacional-de-5-8-durante-fum5> Acesso em: 13 fev. 2011. 3. O texto atual do dispositivo encerra redação determinada pela Emenda Constitucional nº 64/2010. Como alhures referido, o texto original não agregava o direito à moradia, muito menos o direito à alimentação, que corresponde à novidade decorrente da recente alteração. 4. Direitos fundamentais e direito à moradia: harmonização de conflitos à luz do princípio da proporcionalidade. 2009. 242f. Mestrado (Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009. p. 37-38. 5. A extensão dos danos pode ser melhor dimensionada por meio do link disponível em: <http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/noticias/-enchente-muda-mapa-geografico-de-nova-friburgo-diz-governo-20110117.html>. Acesso em: 13 fev. 2011. 6. Para além da regularização fundiária: Porto Alegre e o urbanizador social. ALFONSIN, Betânia; FERNANDES, Edésio (Org.). Direito à moradia e segurança da posse no estatuto da cidade: diretrizes, instrumentos e processos de gestão. Belo Horizonte: Fórum, 2006. p. 281-282. Também acerca desse processo de urbanização e seus efeitos no direito à moradia, vide NALIN, Nilene Maria. Os significados da moradia: um recorte a partir dos processos de reassentamento em Porto Alegre. 2007. 172f. Mestrado (Mestrado em Serviço Social) – Faculdade de Serviço Social, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007. 7. Art. 39. A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor, assegurando o atendimento das necessidades dos cidadãos quanto à qualidade de vida, à justiça social e ao desenvolvimento das atividades econômicas, respeitadas as diretrizes previstas no art. 2º desta Lei. 8. Art. 21. Compete à União: 9. Art. 2º – O parcelamento do solo urbano poderá ser feito mediante loteamento ou desmembramento, observadas as disposições desta Lei e as das legislações estaduais e municipais pertinentes. § 1º – Considera-se loteamento a subdivisão de gleba em lotes destinados a edificação, com abertura de novas vias de circulação, de logradouros públicos ou prolongamento, modificação ou ampliação das vias existentes. § 2º – considera-se desmembramento a subdivisão de gleba em lotes destinados a edificação, com aproveitamento do sistema viário existente, desde que não implique a abertura de novas vias e logradouros públicos, nem o prolongamento, modificação ou ampliação dos já existentes. 10. Art. 3º – Somente será admitido o parcelamento do solo para fins urbanos em zonas urbanas, de expansão urbana ou de urbanização específica, assim definidas pelo plano diretor ou aprovadas por lei municipal. Parágrafo único. Não será permitido o parcelamento do solo: I – em terrenos alagadiços e sujeitos a inundações, antes de tomadas as providências para assegurar o escoamento das águas; (...) III – em terreno com declividade igual ou superior a 30% (trinta por cento), salvo se atendidas exigências específicas das autoridades competentes; IV – em terrenos onde as condições geológicas não aconselham a edificação; V – em áreas de preservação ecológica ou naquelas onde a poluição impeça condições sanitárias suportáveis, até a sua correção. 11. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LOTEAMENTO IRREGULAR. DANO AMBIENTAL. RESPONSABILIDADE DO MUNICÍPIO. ART. 40 DA LEI Nº 6.766/79. PODER-DEVER. PRECEDENTES. 1. O art. 40 da Lei 6.766/79, ao estabelecer que o município "poderá regularizar loteamento ou desmembramento não autorizado ou executado sem observância das determinações do ato administrativo de licença", fixa, na verdade, um poder-dever, ou seja, um atuar vinculado da municipalidade. Precedentes. 2. Consoante dispõe o art. 30, VIII, da Constituição da República, compete ao município "promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano". 3. Para evitar lesão aos padrões de desenvolvimento urbano, o Município não pode eximir-se do dever de regularizar loteamentos irregulares, se os loteadores e responsáveis, devidamente notificados, deixam de proceder às obras e aos melhoramentos indicados pelo ente público. 4. O fato de o município ter multado os loteadores e embargado as obras realizadas no loteamento em nada muda o panorama, devendo proceder, ele próprio e às expensas do loteador, nos termos da responsabilidade que lhe é atribuída pelo art. 40 da Lei 6.766/79, à regularização do loteamento executado sem observância das determinações do ato administrativo de licença. 5. No caso, se o município de São Paulo, mesmo após a aplicação da multa e o embargo da obra, não avocou para si a responsabilidade pela regularização do loteamento às expensas do loteador, e dessa omissão resultou um dano ambiental, deve ser responsabilizado, conjuntamente com o loteador, pelos prejuízos daí advindos, podendo acioná-lo regressivamente. 6. Recurso especial provido. (REsp 1113789/SP, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 16.06.2009, DJe 29.06.2009) 12. SCHWABE, Jürgen; MARTINS, Leonardo (Org.). Cinquenta anos de jurisprudência do Tribunal Constitucional Federal Alemão. Trad.: HENNIG, Beatriz et al. Berlim: Konrad-Adenauer-Stiftung, 2005. p. 296-299. 13. SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 10. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009. p. 169. 14. Discricionariedade administrativa e o direito fundamental à boa administração pública. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 99-101. 15. É digno de nota, porém, a lição de Elaine Adelina Pagani – O direito de propriedade e o direito à moradia: um diálogo comparativo entre o direito de propriedade urbana imóvel e o direito à moradia. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2009. p. 124 –, ao preconizar que “o direito à moradia no artigo 6º da Constituição Federal pode ser identificado como um direito que integra o direito à subsistência, o qual, por sua vez, representa a expressão mínima do direito à vida”. 16. FREITAS, Juarez. O controle dos atos administrativos e os princípios fundamentais. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2004. p. 229 e 236. 17. GÓIS, Ewerton Marcus de Oliveira. A responsabilidade civil do Estado por atos omissivos e o atual entendimento do Supremo Tribunal Federal. Revista Virtual da AGU, a. VII, n. 67, Brasília, ago. 2007. Disponível em: <http://www.agu.gov.br/sistemas/site/ TemplateTexto.aspx?idConteudo=79952&id_site=1115&ordenacao=1> Acesso em: 25 fev. 2010. 18. RE-AgR 481110, DJ 09.03.2007; RE 409203, DJ 20.04.2007; RE 140270, DJ 18.10.1996; RE 258726, DJ 14.06.2002; Resp 888420, DJe 27.05.2009; Resp 1069996, DJe 1º.07.2009. 19. Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: |
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Referência bibliográfica (de acordo com a NBR 6023: 2002/ABNT): |
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