Educação em ambiente corporativo: como as metodologias ativas combinadas com a utilização das novas tecnologias podem contribuir para obtenção de resultados eficazes na formação de adultos

Isabel Cristina Lima Selau

Mestranda em Educação no PPGEdu – Programa de Pós-Graduação em Educação da PUCRS

publicado em 06.12.2017

Resumo

Este artigo objetiva apresentar argumentos sobre duas questões principais: como alcançar resultados eficazes em um ambiente corporativo por meio de ações educativas que levem em consideração a aprendizagem de adultos; e como as metodologias inovadoras, com a utilização das novas tecnologias, podem contribuir para o seu desenvolvimento. O avanço tecnológico das últimas décadas efetivamente alterou a forma de vida e as relações pessoais, familiares e profissionais dos indivíduos. O mundo não é mais o mesmo: a conectividade e a instantaneidade das ações passaram a ser as características mais relevantes das ações humanas. A ubiquidade fez-se presente em praticamente todos os momentos da vida. A compreensão que se tem de espaço e tempo alterou-se substancialmente. Diante desse novo cenário, como os processos de ensino-aprendizagem são planejados e compreendidos de acordo com essa nova dinâmica? Permanecem ainda, na sua grande maioria, atrelados a um passado que já perdeu o sentido e não mais encontra correspondência com os dias de hoje? Pois é justamente essa discussão que se busca estabelecer neste artigo, especialmente voltado ao processo de aprendizagem de adultos em um ambiente corporativo.

Palavras-chave: Educação de adultos. Andragogia. Metodologias ativas. Tecnologias. Ambiente corporativo.

Abstract

This article intends to address two main issues: how to achieve effective results in a corporate environment through educational actions that take into account adult learning and how active methodologies with the use of new technologies can contribute to its development. The technological advance of the last decades has effectively changed the way of life and the personal, family and professional relationships among the individuals. The world is no longer the same: connectivity and instantaneousness of actions have become some of the most striking features of human actions. Ubiquity was made present in almost every moment of modern life. The understanding of space and time has changed substantially. Due to this new scenario, how are the teaching-learning processes being planned and understood according to this new dynamic? Do they still remain, in their great majority, linked to a past that has already lost its meaning and which no longer matches the present day? This is precisely the discussion that this article intends to establish, aiming especially at the process of adult learning in a corporate environment.


Keywords:
Adult education. Andragogy. Active methodologies. Technologies. Corporate environment.

Sumário: Introdução. 1 Como os adultos aprendem: a ciência da andragogia. 2 A educação corporativa. 3 As metodologias ativas e o uso de tecnologias. Considerações finais. Referências bibliográficas.



Introdução

O avanço tecnológico experimentado pela humanidade nas últimas quatro décadas acarretou profundas transformações na vida das pessoas, quer no âmbito pessoal, quer no familiar e no profissional. A instantaneidade e o dinamismo com que as ações acontecem graças aos avanços da tecnologia mudaram completamente a compreensão que se tem hoje de mundo. Os indivíduos mantêm-se integrados pela Internet e pela informática em um ciberespaço em que a capacidade de armazenamento de informações, de dados e de conhecimento encontra-se amplamente dimensionada como nunca ocorreu na história da humanidade. A sociedade contemporânea da pós-modernidade também está integrada em grau exponencial: indivíduos em qualquer parte do mundo podem compartilhar dados e informações de forma instantânea. As redes sociais são capazes de deflagrar movimentos de integração antes inimagináveis. Um exemplo disso foi o próprio movimento de protesto e revolta conclamado pelas redes sociais que culminou com a queda do governo do Egito, em 2010, conhecido como a Primavera Árabe.(1)

Conforme bem sintetizou Pérez Gómez (2015, p. 15),

“é surpreendente observar a aceleração exponencial da mudança e da evolução do ser humano: a hominização durou vários milhões de anos; a pré-história nômade, quase um milhão de anos; a época agrícola e pecuária, já sedentária, cerca de sete mil anos; a era industrial não chega aos 300 anos; e da era digital ainda temos apenas quatro décadas.”

Considerando o ritmo alucinante como as informações acontecem na era digital e a sua ainda (in)compreensão como um novo ciclo na história da humanidade, inúmeros estudos e pesquisas são realizados com o propósito de melhor entender essa nova etapa na vida humana e os benefícios decorrentes desse processo.

Segundo dados manifestos por Pérez-Gómez, essa velocidade empreendida na era digital pode ser demonstrada pelos seguintes fatos:

“– Em dois anos, é produzida mais informação que em toda a história anterior da humanidade. Fontcuberta (2010) assinala que ‘[…] em 2008 foram realizados mais de 31 bilhões de buscas por mês no Google; em 2006, esse número foi de apenas 2,7 bilhões’. O volume de informações, que começou a ser calculado em kb, em poucos anos, teve de ser contabilizado em dimensões vertiginosas: mega, giga, tera, peta, exabyte, zettabyte e yottabyte.

– A Internet é a tecnologia que mais rapidamente se infiltrou na sociedade na história da humanidade. O telefone necessitou de 75 anos; o rádio precisou de 38 anos para chegar a 50 milhões de usuários; a televisão, 15 anos; o computador, sete; e a Internet, quatro.

– A informação duplica a cada 18 meses e cada vez mais rapidamente, de acordo com estudos da American Society of Training and Documentation (ASTD). Até 100 anos atrás, a informação que o ser humano utilizava na vida cotidiana permanecia, basicamente, a mesma por várias gerações.

– A informação fornecida, por exemplo, pelo jornal New York Times a cada dia é maior do que toda aquela que uma pessoa poderia encontrar, no século XVII, durante toda a sua vida.

– Oitenta por cento dos novos postos de trabalho requerem habilidades sofisticadas de tratamento da informação.

– Os trabalhos que requerem o uso da Internet pagam cerca de 50% mais do que aqueles que não utilizam a Internet.

– Nos próximos cinco anos, 80% dos trabalhadores estarão executando o seu trabalho de maneira diferente daquela como o vinham desenvolvendo ao longo dos últimos 50 anos ou estarão realizando novos trabalhos.” (RIEGLE apud PÉREZ-GÓMEZ, p. 17-18)

Assim, diante de tão expressiva transformação experimentada pelos cidadãos da sociedade digital, resta indagar como estão se desenvolvendo os processos educativos dos indivíduos: a escola está oferecendo ações em sintonia com esse desenvolvimento tecnológico? Os processos de aprendizagem utilizam as modernas tecnologias a fim de possibilitar que os alunos possam desenvolver novas competências indispensáveis para a realização das tarefas em um mundo informatizado? Os educadores estão cientes de seu novo papel na formação de seus alunos diante do universo de dados e informações disponibilizados pela Internet?

E no âmbito corporativo, como podem e/ou devem desenvolver-se as ações de aprendizagem de adultos tendo como suporte as metodologias ativas e os recursos que a Internet e a informática colocam à disposição dos novos educadores e aprendizes? Que resultados podem ser esperados dessa combinação?

1 Como os adultos aprendem: a ciência da andragogia

Embora a crítica que se faz aos currículos da educação tradicional seja uma discussão de longa data, o avanço tecnológico, de forma bastante contundente, tem intensificado esse debate, uma vez que deixa clara a dicotomia existente entre o ritmo da vida moderna e os processos de ensino-aprendizagem ainda praticados de forma insistente e desconexa da atual realidade dos indivíduos.

Estudiosos do tema têm buscado demonstrar o equívoco da excessiva centralização na figura do professor e nos conteúdos em detrimento dos interesses dos alunos que tem caracterizado os processos educativos de uma maneira geral.

Eduard Lindeman, um dos importantes pesquisadores e estudiosos do tema da educação de adultos, em 1926, já falava dessa incorreção:

Our academic system has grown in reverse order; subjects and teachers constitute the starting-point, students are secondary. In conventional education the student is required to adjust himself to an established curriculum. Too much of learning consists of vicarious substitution of some one else’s experience and knowledge.

Defendia o autor que “a educação acontece durante toda a vida das pessoas e que o enfoque da educação de adultos deve ser com base em situações, e não em conteúdos” (LINDEMAN, 1926).

Anos mais tarde, outro pesquisador americano, Malcolm Knowles (1970), convencido de que adultos aprendem diferentemente das crianças, estabeleceu, no mínimo, quatro pressupostos como características da educação de adultos que diferem daquelas dos aprendizes infantis:

1. Self-concept: as a person matures his self concept moves from one of being a dependent personality toward one of being a self-directed human being.

2. Experience: as a person matures he accumulates a growing reservoir of experience that becomes an increasing resource for learning.


3. Readiness to learn: as a person matures his readiness to learn becomes oriented increasingly to the development of tasks of his social roles.


4. Orientation to learning: as a person matures his time perspective changes from one of postponed application of knowledge to immediacy of application, and accordingly his orientation toward learning shifts from one of subject-centeredness to one of problem centeredness.

Dessa forma, é importante que se levem em consideração pressupostos andragógicos como autonomia, experiência de vida, capacidade de iniciativa, flexibilidade para mudanças e criatividade quando se tratar de processos de ensino-aprendizagem para adultos.

Os adultos aprendem a partir de suas próprias experiências, e a aprendizagem ocorre de maneira compartilhada, coletiva, em que o participante é incentivado a intervir e a participar ativamente do seu próprio desenvolvimento; suas experiências de vida devem ser consideradas. Os aprendizes devem ter um lugar de protagonismo nesse processo. O aluno não é mais um ouvinte passivo; abandona-se em definitivo a “aprendizagem bancária” tão criticada por Paulo Freire (FREIRE, 2002).

Há um estímulo para a investigação, a descoberta, o questionamento, valoriza-se a contribuição que o aluno incentivado e motivado é capaz de oferecer e especialmente o resultado prático que trará essa aprendizagem para a vida pessoal e/ou profissional do aluno, ou seja, trata-se de uma aprendizagem para a aplicação prática na vida diária. Nas palavras de Cavalcanti (2012), “as pessoas aprendem o que realmente precisam saber”. A educação passa a adquirir sentido, a ter significância para o aprendiz.

2 A educação corporativa

A formação e a capacitação de adultos em ambientes profissionais vêm merecendo a atenção de instituições públicas e privadas já há algum tempo, em razão da crescente intelectualização dos processos de trabalho em face da incorporação de novas tecnologias e também do dinamismo das relações sociais e produtivas, o que tem demandado do trabalhador um aperfeiçoamento permanente.

Contudo, diferentemente dos processos de ensino-aprendizagem tradicionais, a educação de adultos em ambientes corporativos tem buscado deixar de lado aquele caráter de treinamento em série, genérico e repetitivo para um modelo crítico-reflexivo em que a construção do saber coletivo é muito bem-vinda.

Não cabem mais as formas de educação do trabalho com base na memorização e na repetição de conhecimentos voltadas para atender demandas de trabalho caracterizadas pela realização de tarefas parciais cujos processos de trabalho centravam-se em bases eletromecânicas.

A globalização da economia acarretou novos padrões de produtividade e de competitividade, determinando paradigmas profissionais cuja característica fundamental passou a ser a acumulação flexível.(2) Não só mudam os processos produtivos com a introdução da microeletrônica como também os processos de sociabilidade; e os indivíduos passam a ter que (re)aprender para não ficarem excluídos dessa nova dinâmica profissional e social, a qual demandará o desenvolvimento de novos conhecimentos, habilidades e atitudes.

Para tanto, busca-se educar com base no desenvolvimento de competências, ou seja, proporcionar um processo de ensino-aprendizagem de caráter permanente que possibilite ao profissional atuar no seu ambiente de trabalho de forma criativa, solucionando problemas que surgem tanto nas situações laborais de rotina como naquelas que acontecem de forma inesperada.

A educação corporativa atua, portanto, na busca de resultados, estabelecendo uma conexão direta com a experiência e o conhecimento prévio dos alunos e como isso deve ser considerado nos processos de ensino-aprendizagem. Os alunos são convidados a atuar com protagonismo no processo de aprendizagem corporativa, e o professor transveste-se na figura do mediador e orientador desse processo, problematizando e incentivando o progresso dos alunos.

Bem a propósito da teoria piagetiana, que defende que

“o principal objetivo da educação é criar homens que sejam capazes de fazer novas coisas, e não de simplesmente repetir o que outras gerações fizeram, homens que sejam criativos, inventores e descobridores; o segundo objetivo da educação é formar mentes que possam ser críticas, que possam analisar, e não aceitar tudo o que lhes é oferecido.” (PIAGET, 1969)

A educação nas corporações precisa ser significativa; muito mais que conteúdos, aprende-se com as situações para as quais se buscam soluções. É necessário que se trabalhe com o senso de análise crítica dos alunos em prol de um conhecimento aplicado a sua realidade profissional.

Nas palavras de Paulo Freire (2002),

“mulheres e homens, somos os únicos seres que, socialmente e historicamente, nos tornamos capazes de aprender. Por isso, somos os únicos em que aprender é uma aventura criadora, algo, por isso mesmo, muito mais rico do que meramente repetir uma lição dada. Aprender para nós é construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao riso e à aventura do espírito.”

Diante desse quadro, faz-se necessária a formação de um novo tipo profissional. Segundo Kuenzer (2002),

“a crescente complexificação dos instrumentos de produção, informação e controle, nos quais a base eletromecânica é substituída pela base microeletrônica, passa a exigir o desenvolvimento de competências cognitivas complexas e de relacionamento, tais como análise, síntese, estabelecimento de relações, criação de soluções inovadoras, rapidez de resposta, comunicação clara e precisa, interpretação e uso de diferentes formas de linguagem, capacidade para trabalhar em grupo, gerenciar processos para atingir metas, trabalhar com prioridades, avaliar, lidar com diferenças, enfrentar desafios das mudanças permanentes, resistir a pressões, desenvolver o raciocínio lógico-formal aliado à intuição criadora, buscar aprender permanentemente e assim por diante.”

3 As metodologias ativas e o uso de tecnologias

O avanço das TICs(3) tem provocado um crescimento nos questionamentos sobre a legitimidade dos processos de ensino-aprendizagem de crianças e adultos como são oferecidos atualmente, acarretando um (re)pensar das propostas pedagógicas, do papel do professor e das metodologias empregadas, visando a sua reformulação. Há muito tempo a aprendizagem, segundo os padrões tradicionais, deixou de produzir os resultados esperados na formação dos indivíduos, reconhecendo-se a sua quase total dissintonia com as necessidades da vida moderna.

De acordo com o Professor Moran,(4) a tecnologia libertou-nos do tempo e do espaço e nos deu muitas formas de ensinar e aprender – em redes, sozinhos, em grupos, por intercâmbio –, e isso configura um novo cenário educacional em que as metodologias ativas acham-se inseridas, visando à facilitação do novo paradigma educacional.

Por óbvio, as metodologias por si só não resolvem o problema da aprendizagem; é preciso que elas sejam utilizadas dentro de um projeto novo de ensino-aprendizagem em que tanto o papel do professor quanto o do aluno passem por uma reformulação.

O professor precisa ser preparado para desempenhar um novo papel – de orientador, de mediador do processo de aprendizagem de seus alunos; e os aprendizes, por sua vez, necessitam compreender que eles devem ter autonomia, senso crítico, espírito investigativo e participar ativamente de sua própria aprendizagem. Para tanto, as metodologias ativas assumem uma função relevante nessa nova relação, especialmente servindo-se das múltiplas possibilidades disponibilizadas pelas tecnologias da informação.

Considerando que todo o tipo de dado e informação encontra-se disponível em rede, a memorização passou a ocupar um lugar secundário na aprendizagem, pois o que se torna relevante é como aprender a lidar com toda essa gama de informações de forma crítica e visando ao desenvolvimento de competências (conhecimentos, habilidades e atitudes) capazes de nos educar para a complexidade das relações pessoais e de trabalho que caracterizam a sociedade digital.

Segundo Moran,(5)

“a educação será cada vez mais complexa, porque a sociedade vai se tornando, em todos os campos, mais complexa, exigente e necessitada de aprendizagem contínua. A educação acontecerá cada vez mais ao longo da vida, de forma seguida, mas inclusiva, em todos os níveis e modalidades e em todas as atividades profissionais e sociais.”

Nesse cenário, a utilização das metodologias ativas, com auxílio dos recursos tecnológicos disponíveis, sem dúvida alguma, exerce um papel fundamental nessa mudança de paradigma. Mesmo partindo tão somente do uso de vídeos, hipertextos e blogs em salas de aula, já é possível dar início a esse processo de reformulação da aprendizagem.

Contudo, faz-se necessário encorajar e treinar professores e alunos para que utilizem essas metodologias e aproveitem os recursos disponíveis da telemática de maneira criativa nos seus processos de ensino-aprendizagem. Muitos exemplos podem ser citados para demonstrar esse novo modelo educacional que se apresenta para que as ações educacionais tornem-se significativas e façam sentido para os aprendizes da sociedade digital.

Um bom exemplo da combinação do uso de metodologias ativas e tecnologia é a Sala de Aula Invertida ou Flipped Classroom, como é chamada em inglês. Nessa metodologia, os alunos são estimulados a pesquisar sobre determinado conteúdo utilizando para tanto recursos tecnológicos como vídeos, hipertextos, bibliotecas virtuais, grupos em redes sociais. O professor pode fazer um acompanhamento prévio desse trabalho dos alunos por meio de diálogos em áudio, vídeo ou chats antes das discussões entre professor e alunos em sala de aula presencial ou virtual que culminarão com a construção do novo conhecimento.

A diferença básica entre a proposta da Sala de Aula Invertida e o método tradicional de ensino é que os recursos tecnológicos utilizados para mediação desse método oportunizam ao aluno possibilidades de buscar conteúdos em vídeos, hipertextos, grupos em redes sociais, bibliotecas virtuais, entrevistas com especialistas sobre o conteúdo, etc., além de permitir que o aluno possa medir antecipadamente o seu nível de apropriação do conteúdo prévio com ajuda de recursos tecnológicos de mediação, viabilizando, desse modo, a antecipação de resultados (MORAN, 2014).

Diversos recursos tecnológicos colocados à disposição de professores e alunos, como os próprios smartphones, blogs ou sites pessoais para disponibilização de materiais e conteúdos discutidos em salas de aula, o uso de wikis,as plataformas de ensino a distância, entre outros, servem igualmentepara colaborar para construção de novo conhecimento.

É importante destacar que a grande contribuição das novas tecnologias de informação é que elas possibilitam dispensar o professor das atribuições mais genéricas do processo de ensino-aprendizagem, permitindo que ele possa dedicar-se ao que realmente seja problemático e fundamental para a aprendizagem. Os recursos tecnológicos permitem, por meio de testes, mapear o perfil dos alunos, o nível de seu conhecimento, seus interesses e dificuldades, possibilitando um conhecimento prévio destes pelo professor. O professor torna-se, assim, um gestor de grupos, visando a uma formação mais personalizada e utilitária.

Considerações finais

Os avanços tecnológicos das últimas quatro décadas mudaram o mundo; as pessoas da sociedade digital pensam e interagem de forma bastante distinta de como costumavam agir. Segundo Pérez-Gómez (2015), “a mudança que (…) melhor se identifica com a transformação substancial da vida cotidiana se refere à onipresença da informação como entorno simbólico da socialização”.

Por conseguinte, o que se esperar dos processos educativos? A forma tradicional como ainda se desenvolvem as ações de ensino-aprendizagem, com professores desempenhando papel de oráculo e alunos com participação passiva e sem autonomia, efetivamente, não ajudará a formar indivíduos capazes de enfrentar os desafios da moderna sociedade. Recursos tecnológicos ainda pouco compreendidos como ferramentas educacionais e, portanto, pouco ou mal explorados acabam gerando mais distanciamentos entre as necessidades do aprendiz e a sociedade tecnológica em que se encontra inserido. Hoje, talvez, mais do nunca, faça sentido a ideia manifesta por Paulo Freire (2002) de que “saber ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”.

A sociedade pós-moderna não necessita mais de indivíduos que sejam tão somente meros receptores passivos de conhecimentos, pois a tecnologia e a Internet possibilitaram que conhecimentos e informações estejam ao alcance dos indivíduos em qualquer tempo e espaço. Assim, o que se faz necessário é que os processos de ensino-aprendizagem sirvam para capacitar os alunos a lidar com essas informações em prol de sua própria atuação pessoal e profissional. Mais abrangente do que aquilo que o aluno aprende é o que ele fará com o que aprendeu.

É importante também ressaltar que as pessoas são singulares e que isso não pode ser desprezado no momento da aprendizagem. As tecnologias permitem realizar um mapeamento prévio da personalidade de cada aluno, por meio de testes disponíveis nas redes, de forma que as atividades educacionais possam acontecer de forma distinta levando em consideração esse perfil do aluno.

Dessa forma, o professor torna-se efetivamente um mediador, um orientador dos processos de ensino-aprendizagem, e os alunos precisam aprender a agir com autonomia e curiosidade, levando em conta suas experiências prévias na construção do novo conhecimento. Mais que conhecimento, a educação da era digital precisa desenvolver competências nos aprendizes, capacitando-os para lidar exitosamente com os desafios da vida moderna.

Assim, nas palavras de Pérez-Gómez (2015),

“a tarefa do currículo escolar deve ser precisamente a seleção rigorosa e qualitativa do conteúdo de informação que deve ser trabalhado para assegurar o desenvolvimento em cada indivíduo de capacidades cognitivas de ordem superior que lhe permitirão aprender ao longo de toda a vida.”

Para tanto, as tecnologias da informação constituem um excelente instrumental.



Referências bibliográficas

BELINI. Práticas educativas e ferramentas tecnológicas. Aula 2. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=905rH1sRdb0>. Acesso em: 03 jun. 2017.

CAVALCANTI, R.A. Andragogia: a aprendizagem nos adultos. Disponível em: <http://www.ccs.ufpb.br/depcir/andrag.html>. Acesso em: 29 maio 2017.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 23. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

HARVEY, D. A condição pós-moderna. 7. ed. São Paulo: Loyola.

KNOWLES, Malcolm S. Informal adult education, self-direction and andragogy, the encyclopedia of informal education. Infed.org. Disponível em: <http://infed.org/thinkers/et-knowl.htm>. Acesso em: 29 maio 2017.

______. The adult education movement in the United States. New York: Holt, Rinehart and Winston, 1962.

KUENZER, A. Conhecimento e competências no trabalho e na escola. Boletim Técnico do Senac, Rio de Janeiro, v. 28, n. 2, maio/ago. 2002.

______. Educação profissional: novas categorias para uma pedagogia do trabalho. Boletim Técnico do Senac, Rio de Janeiro, v. 28, n. 2 maio/ago. 2002.

LINDEMAN, Eduard C. The meaning of adult education. Infed.org. Disponível em: <http://www.infed.org/thinkers/et-lind.htm>. Acesso em: 29 maio 2017.

MORAN, J.M. Metodologias inovadoras com tecnologias. Entrevista a João Mattar. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=pKi2K_xcTGM&feature=youtu.be>. Acesso em: 02 jun. 2017.

______. O uso das novas tecnologias da informação e da comunicação em EAD: uma leitura crítica dos meios. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/T6%20TextoMoran.pdf>. Acesso em: 02 jun. 2017.

PÉREZ GÓMEZ, Angel I. Educação na era digital: a escola educativa. Traduzido por Marisa Guedes. Revisão técnica: Bartira Costa Neves. Porto Alegre: Penso, 2015.


Notas

1. A Primavera Árabe, como é conhecida mundialmente, foi uma onda revolucionária de manifestações e protestos que ocorreram no Oriente Médio e no Norte da África a partir de 18 de dezembro de 2010. Houve revoluções na Tunísia e no Egito, uma guerra civil na Líbia e na Síria; também ocorreram grandes protestos na Argélia, em Bahrein, em Djibuti, no Iraque, na Jordânia, em Omã e no Iêmen e protestos menores no Kuwait, no Líbano, na Mauritânia, no Marrocos, na Arábia Saudita, no Sudão e no Saara Ocidental. Os protestos compartilharam técnicas de resistência civil em campanhas sustentadas envolvendo greves, manifestações, passeatas e comícios, bem como o uso das mídias sociais, como Facebook, Twitter e Youtube, para organizar, comunicar e sensibilizar a população e a comunidade internacional em face de tentativas de repressão e censura na Internet por partes dos Estados (The Arab Uprising’s cascading effects. Miller-mccune.com, 23 fev. 2011. Acesso em: 27 fev. 2011).

2. “Acumulação flexível é uma categoria formulada por Harvey (…). Ela se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e dos padrões de consumo (…) surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional.” (HARVEY, A condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1998. p. 140)

3. Tecnologias da Informação e Comunicação.

4. MORAN, José Manuel. Tendências da educação online no Brasil. 2005. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=pKi2K_xcTGM&feature=youtu.be>.

5. Idem, ibidem.


Referência bibliográfica (de acordo com a NBR 6023:2002/ABNT):

. . Revista de Doutrina da 4ª Região, Porto Alegre, n., dez. 2017. Disponível em: <>. Acesso em: .


Voltar para o índice da Revista 81

REVISTA DE DOUTRINA DA 4ª REGIÃO
PUBLICAÇÃO DA ESCOLA DA MAGISTRATURA DO TRF DA 4ª REGIÃO — EMAGIS